quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sessão de Hemodiálise 402

As clínicas de hemodiálise realizam três sessões em um dia, seis dias por semana. Normalmente, os três turnos são: 7–11hs, 11–15hs e 15–19hs. Eu dialiso no segundo horário, das 11 às 15 horas.

Eu até que moro próximo à minha clínica, pois, geralmente, quando o paciente entra em programa de hemodiálise pelo SUS, o governo indica a clínica que fica mais próxima de sua residência. Mas há muitos pacientes que não desfrutam desse privilégio – o irônico privilégio de ser espetado mais rápido – e às vezes chegam a morar a 2-3 horas ou mais de distância de sua clínica.

As pessoas que dialisam no primeiro turno às vezes têm de acordar às 4 horas da manhã, se não quiserem chegar atrasadas para a sessão. Não é uma questão de disposição; se o paciente não for para o tratamento, ele irá morrer. Se faltar sequer um dia, ele também poderá morrer. Deve-se ter muita coragem e sangue frio para forçar-se a acordar depois de finalmente conseguir dormir, já que a hd costuma causar uma terrível insônia, e sair do conforto de sua casa para fazer essa jornada em busca de uma sobrevida, sem inclusive saber o que esperar da sessão.

Sair “bem” da hemodiálise – é unânime –, ninguém sai, apesar de os enfermeiros sempre perguntarem “Você está bem?” e os pacientes responderem que sim, para partirem logo da clínica, e tentarem retornar ao que lhes sobrou de uma vida normal. No mínimo, o paciente se levanta da cadeira com uma tonteira e uma sensação de fraqueza, o que o faz andar com cautela. Agora, imagine pegar um ônibus de volta para casa nessas condições, durante 3 horas. Não é à toa que os pacientes em tratamento de hemodiálise têm direito a transporte gratuito com acompanhante.

Certa vez, levantei-me da cadeira e comecei a ter ameaças de convulsão – o que chamo de “ausência”, e que poderia descrever como o ato de apagar e acender rapidamente um interruptor, só que a luz que está acesa é o meu cérebro – e subitamente comecei a perder o equilíbrio, pois a consciência some e volta numa fração de segundo. Os enfermeiros perguntaram se eu estava bem e, logicamente, respondi que não, pois, se eu deixasse a clínica naquele estado, poderia convulsionar no meio da rua e ninguém viria me socorrer, ou, se viesse, poderia ser tarde para mim. Então, eles me administraram anticonvulsivante e os sintomas passaram algum tempo depois.

Uma vez tive uma crise num restaurante por quilo, e quase derrubei a bandeja que estava segurando quando estava fazendo meu prato, entornando uma boa parte da minha comida no chão. Tenho muito medo de ter essas crises fora da clínica, onde não poderei ser salvo. É uma bomba-relógio com um timer de tempo indefinido.

2 comentários:

  1. Bom Dia Gui!Pq vc tem essas crises convulsivas?

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  2. Guilherme, estava lendo seus relatos em hemodiálise e me lembrando de quando minha mãe também fazia e como ela saía da clínica. Atualmente ela faz diálise peritonial, o que resultou num conforto melhor pra ela. Parabéns pelo seu Blog, pela sua atitude em registrar de fato o que é uma sessão de hemo.

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