segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sessão de Hemodiálise 422

Sou graduado em Jornalismo e pós-graduado em Produção Editorial; possuo diversos certificados relacionados a Comunicação, como Preparação e Revisão (Universidade do Livro/UNESP), Roteiro (UAM), Fotografia, Edição, Produção Audiovisual, Making-of, Webcartoon (SENAC) além de cursos técnicos como Processamento de Dados e Gastronomia (Hotec). Mas um currículo, por mais recheado que seja, no meu caso é inútil quando se trata de ascensão profissional: isso não existe para mim. Não só devido à hemodiálise, que me impede de ter um emprego fixo, uma carreira, já que nenhuma empresa aceita contratar um funcionário que está à mercê da instabilidade de uma doença crônica, mas também pelas outras complicações causadas pela IRC.

Minha doença sempre me impediu de progredir profissionalmente; ainda nos tempos do colégio, precisei refazer a quinta série, porque, como o meu aproveitamento escolar naquele ano não havia sido bom – eu faltava muito devido ao entra e sai em hospitais –, a diretora achou melhor que eu repetisse. Alguns anos depois, já com o curso universitário, consegui um emprego numa agência de clipping – meu trabalho era ficar várias horas sentado numa cadeira, com fones de ouvido, escutando e anotando os nomes de empresas que eram citadas nos telejornais. Ao final do expediente, desde o primeiro dia de trabalho, minhas pernas e pés ficavam muito inchados, parecendo que iam estourar. Quando eu chegava em casa, os tênis afrouxados para caber os pés que mesmo assim ficavam espremidos e sensíveis, eu tirava a meia e tentava, com os dedos da mão, puxar em direção ao peito do pé o líquido que ficava acumulado na base dos artelhos, porque ali é onde a pressão do inchaço mais causa dor. Como não aliviava muito, a solução era deitar e ficar com as pernas para cima, para tentar drenar naturalmente um pouco do líquido acumulado nas extremidades.

Há cerca de quatro anos, quando ainda era transplantado, eu consegui um emprego como assistente de produção editorial em uma renomada editora. Se tudo desse certo, eu poderia até ser efetivado. Fui trabalhar normalmente no primeiro dia. No segundo dia, nenhum problema também. Já no terceiro dia, eu desapareci para os meus colegas de trabalho, assim como nas próximas três semanas: peguei varicela (catapora) e fui internado, coisa que eu provavelmente jamais teria se não fosse renal crônico e imunossuprimido. Na próxima postagem, conto as complicações de se contrair catapora quando adulto, com direito a fotos.

Parece sina: toda vez que conseguia um emprego fixo, alguma complicação relacionada à minha doença surgia, o que não é uma infeliz coincidência, mas uma clara evidência de como a minha vida é transtornada e atormentada pela IRC.

Depois da alta, admitiram-me de volta ao trabalho e me pagaram pelo tempo que estive ausente. Legal da parte deles. Mas só não fui mandado embora porque era um trabalho temporário mesmo, para o fechamento do ano, caso contrário, não iriam querer continuar comigo. Nada pessoal, é uma questão financeira: o que vale mais a pena para uma empresa? Contratar um funcionário que vem todos os dias, ou um que talvez não venha amanhã por problemas de saúde? Tanto é que nunca mais fui chamado – ainda que meu trabalho tenha sido elogiado –, nem como temporário.

Enfim, hoje sou freelancer, revisor de texto. Consigo um ou outro trabalho todo mês. Às vezes, não há trabalho. Não há vínculo, não há benefícios, não há segurança. Permanece somente a dúvida: será que terei trabalho amanhã? Pleitear uma aposentadoria fica difícil, porque tenho essa doença desde muito pequeno - não fiquei doente depois de começar a trabalhar com carteira assinada, embora minha condição esteja se agravando.

2 comentários:

  1. Parábens pelo seu blog, muito legal, bem, tocante, faz a gente pensar, sou enfermeira, atuo como responsável técnica, e conhecia muito pouco sobre hemodiálise, tenho até medo de algum dia precisar tbm, desde os 17 anos tenho litiase renal e infecção urinária de repetição.

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  2. Guilherme... muito tocante seu site... o encontrei porque fiquei aflita pelo meu pai que começou agora a fazer dialises por causa de uma insuficiencia cardiaca, o rim dele não funciona mais.. Ele estava super bem ontem a tarde... Hoje fez uma dialise e não está acordando, nem falando... só abre os olhos.. e fecha muito de vez enquando.

    Deus tem um propósito na sua vida de uma forma que você não imagina. Ele te ama tanto, e de uma maneira inexplicavel. Nunca desista de tentar sempre..

    Acredito em você, na sua força e coragem para viver, mesmo sem conhecer você.

    Amigo.. DEUS É CONTIGO..

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