quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sessão de Hemodiálise 420

Peço desculpas pelo atraso na postagem.

A madrugada de segunda para terça foi um inferno. Um pico de hipertensão me deu falta de ar e não consegui dormir: logo que me deitei, senti uma repentina dificuldade de respirar, e fui tomado por uma sensação de estufamento. Sentei-me na cama e, quando forcei a exalação para esvaziar os pulmões, verifiquei que havia o característico chiado no peito, indício de um problema bastante sério – edema pulmonar. Passaria aquela noite em claro.

Eu estava cansado, pois havia trabalhado muito, o dia todo. O sono era inevitável, só que, ao mesmo tempo, impossível, já que toda vez que me deitava, exausto, meu corpo todo pedindo por um merecido descanso, o oxigênio não chegava aos pulmões na quantidade necessária. Quando caía no sono, acordava sobressaltado segundos depois, com a sensação de que estava prestes a me afogar, o coração latejando freneticamente, como se espremido por uma mão.

Verifiquei a pressão no meu aparelho de pulso e o mostrador marcou 23X13. Tomei minha medicação para pressão alta – minoxidil, um dos anti-hipertensivos mais fortes que existem –, e também coloquei na boca dois captopril sublinguais, mas não adiantou. Quando tossi, cuspi a temida espuminha rosada, sinal claro de que entrara líquido no pulmão; não havia mais volta: era edema pulmonar mesmo, pelo menos foi o que eu achei naquele momento. Essa constatação só piorou a minha ansiedade por estar com falta de ar, pois eu sabia que poderia resultar em mais uma internação hospitalar. Ponderei: a falta de ar não estava tão grave, como de outras vezes. Se eu fosse para a emergência, poderiam me “prender” lá, levantar todo o meu histórico novamente, coletar sangue para exames – o ritual de praxe – e acabariam concluindo que eu precisaria de uma sessão de hemodiálise para retirar o líquido em excesso, coisa que eu já faria mesmo dali a 9 horas, na clínica. A única vantagem do hospital seria tomar oxigênio imediatamente e cessar aquela sensação de afogamento. Dúvida. Falta de ar. Exaustão. Uma bola de neve de agonia.

Finalmente, amanheceu e fui para a clínica de hemodiálise. Comecei a melhorar depois de algum tempo na máquina, e a crise não evoluiu para um quadro de edema pulmonar.

Essa não foi a única nem a pior vez em que isso aconteceu.

Já tive crises desse tipo muito mais graves, e fui parar na UTI diversas vezes com um quadro sério de edema pulmonar. Começava com um pico de pressão, e logo meu pulmão estava cheio de líquido, impedindo-me de respirar; e sobrevinha o desespero do sufocamento, o terror da morte por asfixia. Não é exagero, pois não se consegue tirar o líquido de uma hora para outra, e nem a mais potente terapia de oxigenação consegue aliviar a falta de ar; a tosse de espuminha rosada convertia-se numa secreção sanguinolenta, de um vermelho vivo, tão assustador como o sangue que corre de uma ferida profunda, só que jorrando pela boca, com uma tosse incessante. Chocante até para médicos e enfermeiros, acostumados a lidar com dor e sofrimento alheios: olhos arregalados e desespero, correria, corrida contra o tempo, ouvindo-me dizer “Eu vou morrer!”, ofega-ofega-ofega, “Eu vou morrer!”, ofega-ofega-ofega. Não importava a minha posição – fosse deitado, sentado ou de pé –, às vezes aquele sofrimento durava horas a fio, sem trégua. Quase morri várias vezes. Em comparação, essa última foi um passeio no parque.

Um comentário:

  1. O engraçado é que o pensamento continua no mesmo ritmo de sempre, como se estivesse constatando uma ocorrência alheia. O corpo parece um cavalo xucro e vc pensa "vou morrer" com a mesma tranquilidade que pensaria "preciso de um novo par de meias", não acende nem uma luz de alarme adicional no painel...
    Abraço cara!

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