sábado, 9 de outubro de 2010

Sessão de Hemodiálise 458

Por ser muito longo, dividirei este post em duas partes.

Como eu perdi o meu primeiro transplante (Parte 1)



Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, considera-se criança a pessoa de até 12 anos de idade incompletos e, adolescente, aquela entre 12 e 18 anos. Quando se discute, por exemplo, a reforma da idade penal, a maior dificuldade em que se esbarra é a questão da “imputabilidade penal”, ou seja, a capacidade que o indivíduo que praticou determinado ato ilegal tem de entender o que está fazendo. Como demarcar a partir de que idade o menor tem condições de ser responsabilizado por seus atos? Em certos países, como a França e Portugal, o menor, em determinada faixa etária, pode ou não ser responsabilizado, dependendo da avaliação de cada caso em particular, dos agravantes ou atenuantes, e, sobretudo, da análise da capacidade do acusado em ter consciência ou não dos seus atos.

Deixando-se a esfera legal e criminal, e partindo-se para a mera observação do dia a dia, vemos que tanto o desenvolvimento físico como o mental varia enormemente de criança para criança, e de adolescente para adolescente, de idades equivalentes. Com relação ao desenvolvimento emocional a disparidade pode ser ainda mais dramática, e isso nada tem a ver com inteligência ou capacidade intelectual.

Devido à minha doença, meu desenvolvimento físico foi comprometido. Além de ser franzino e sempre aparentar menos idade do que realmente tenho, alguns dados mais concretos comprovam isso. Como o fato de que conservo ainda, aos 30 anos, dentes de leite, que jamais foram substituídos pelos definitivos.

Devo dizer que a mesma coisa se deu no campo emocional. Por ser doente desde bebê, fui aos poucos me resguardando e me apoiando num “mundinho azul”, como alguns amigos meus desde a infância (amigos meus até hoje) chamavam. Esse tal mundinho azul, que nada mais era do que um contraponto ao sofrimento psicológico e à dor física impostos pela doença, era povoado por videogames, meus animais, filmes na TV, coleções, minhas “atividades artísticas” e, principalmente, meus escritos (nessa época, histórias e personagens de HQ bastante bobinhos): só coisas boas, alegres, bonitas, divertidas.

Na idade em que muitos garotos estão ansiosos para deixar para trás a adolescência e mergulhar de cabeça na liberdade e independência do mundo adulto, eu, ao contrário, valorizava a infância, cultivava-a. Como o avestruz que pensa fugir do perigo enterrando a cabeça na areia, eu, mesmo sem ter consciência disso, refugiava-me nos dias relativamente felizes de minha infância, apavorado com o futuro negro que podia visualizar à minha frente: mais dias, meses, anos de leitos de hospitais; mais infinitas invasões de minha privacidade e violações de meu corpo por agulhas e bisturis; mais dor, amargura e impotência, e, por fim, a morte. Como, nos dizeres de uma camiseta, “LIFE’S A BITCH AND THEN YOU DIE”.

A verdade é que, apesar de esperto, vivaz e piadista, eu sempre fui muito imaturo. E isso ficava bastante óbvio no convívio comigo, tanto para os meus amigos e colegas de colégio, quanto – e principalmente – para a minha família. Revendo meus guardados por entre as caixas de papelão que ainda estão sendo arrumadas depois da mudança, encontrei “contos” e desenhos inacreditavelmente infantis para um garoto de 15, 16 anos. Reproduzo aqui alguns destes últimos, para dar uma ideia do grau da minha imaturidade nessa época.





3 comentários:

  1. Gostaria de conversar um pouco com você (se possível via msn, aninha.carla_almeida@hotmail.com), pois sou acadêmica do 9º Período de Fisioterapia. Estou estagiando no setor de Hemodiálise e gostaria de alguns esclarecimentos, pois seu bolg me chamou muita atenção. Aguardo respostas... Abraços!

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  2. estou divulgando seu blog!!!

    adoro seus textos. muito bem escritos!!

    :)

    be strong!

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