segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sessão de Hemodiálise 436

Outro dia, na sala de espera do consultório da médica da equipe que trata de mim agora, conversei com um senhor de quarenta e tantos anos, que havia chegado antes de mim. Notei que ele tinha uma fístula (quase tão dilatada quanto a minha) e que, portanto, fazia hemodiálise. Passei-lhe o endereço do meu blog, ele se interessou bastante. Continuamos a falar e, conversa vai, conversa vem, ele se queixou amargamente de sua família, mais especificamente de sua irmã, que, embora tenha espalhado para todo mundo que doaria um rim para ele, para ficar bem na fita e ser admirada, sempre foi enrolando, adiando, ganhando tempo. Quando não dava mais para adiar, mesmo já tendo certa idade e sendo mãe de um adolescente, apareceu grávida, um pretexto óbvio para evitar a doação. Como ele se queixou não apenas disso, mas também de que ela passou a perna nele em questões de dinheiro, cheguei à conclusão que as histórias se repetem num repertório não muito amplo nesse universo particularíssimo da insuficiência renal. Particularíssimo porque é uma doença que pode ser contornada com um transplante entre vivos; que pode tanto resultar numa morte rápida, numa longa e dolorosa agonia de uma semivida na hemodiálise, ou numa expectativa de vida quase idêntica a de alguém são. Ou seja, é mortal e ao mesmo tempo não é, dependendo das circunstâncias da vida de determinado indivíduo com IRC. Num extremo, tanto pode revelar o caráter heroico e desprendido de um amigo ou amiga que, sem vínculo familiar (e, por conseguinte, sem a obrigação moral de doar), dispõe-se a doar um rim por verdadeiro e desinteressado amor; como, no outro extremo, pode trazer à tona o lado negro do ser humano, em que uma doença crônica num familiar, além de provocar indiferença ao seu sofrimento, ainda é oportunidade praticamente de um assassinato “branco”, em que não se pode provar que houve um crime, mas em que se elimina alguém da partilha da herança, muito convenientemente, apenas pela recusa em doar um órgão e prolongar a vida do parente. Um paciente renal terminal, se não é muito amado pelos familiares, é visto como um estorvo, constantemente desrespeitado, como se fosse alguém que já deveria ter morrido e ainda não morreu, como se tivesse o “prazo de validade vencido”, alguém que não significa nada, apenas gastos, mesmo quando a situação financeira da família é excelente.

2 comentários:

  1. Olá Guilherme, me chamo Rodrigo estou no ultimo período de Fisioterapia, estou no campo de estágio no Hospital de Cajazeiras na PB. Foi implantado o centro de hemodiálise aqui recentemente, somos a primeira turma a estagiar nessa área. Já tinha ouvido falar em hemodiálise sempre soube que é muito sofrimento e tal, agora que estou tendo um maior contato nessa área vejo a realidade nua e crua... Cara fiquei emocionado lendo seu blog, está de parabéns pelo seu trabalho... A respeito de sua saúde, que DEUS te ilumine e te ajude a conseguir transplante... Abraço fica com DEUS!!! rodrigocz21@hotmail.com

    ResponderExcluir
  2. Oi Guilherme, tudo bem?!
    Me chamo Paula. Fiz Hemodiálise durante dez anos, agora estou transplantada. Esse tempo de dez anos tive catéters por todo o meu corpo. Tudo isso pq pacintes com irc dificilmente tem um vaso calibraso. Fiz també peritoneal, pois pedi ao médico para me mudar senão iria endoidar alí mesmo! Tive avc devido ao problema renal e várias paradas. Mas com tudo isso sabemos que DEUS tem nos livrado de coias piores, não é mesmo?! A minha fístula é alta e sangrava demais. Tinha dia que precisava chamar um enfermeiro "que manjava do assunto", por que tem uns que só a graça (rsrs), pra que ele colocasse um palito com algodão centralizado no furo envolvendo com gases e fita bem forte pra poder ir pra casa. Era terrível. Hj fazem um ano e dois meses que estou transplantada. Espero em Deus, que nos conhece melhor do que ninguém, que esse tempo pra você chegue o quanto antes. te desejo felicidades e tudo de bom, meu amigo. Fica com Deus. Tenha um final de semana abençoado!

    ResponderExcluir