quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sessão de Hemodiálise 431

Além de mostrar minha visão – ponto de vista de paciente –, pensei que também seria interessante que os próprios profissionais que convivem com o difícil (em vários sentidos) tratamento de hemodiálise contassem suas experiências, as impressões mais vívidas ao longo de sua trajetória. Começo com o depoimento de Sandra, enfermeira na minha clínica há quatro anos.

Guilherme: “Qual foi a coisa mais marcante que você presenciou na hemodiálise?”

Sandra: “Na verdade, foram três. [1] A que mais me marcou foi uma vez que um paciente terminou a diálise, normal, do modo como sempre saía da sessão, e estava indo embora quando parou na porta. Ele voltou, falando que estava se sentindo meio zonzo, sentou na cadeira, teve uma parada cardíaca e morreu.

[2] Na minha primeira semana na clínica, a enfermeira-chefe chegou para mim e disse: ‘Você já tamponou?’. ‘Não’, respondi. ‘Então, hoje você vai aprender.’
[Tamponar: Tapar com algodão os orifícios de um cadáver. O que demonstra como a ocorrência de óbitos é frequente nesse tratamento, a ponto de as enfermeiras precisarem ser treinadas em tamponamento.]

[3] Tinha um senhor que, por causa do diabetes, havia perdido uma das pernas e alguns dedos da mão. Pedi a ele para assinar [a cada diálise, os pacientes têm de assinar uma lista de comparecimento] e ele me perguntou se poderia ser no final da sessão, já que a mão que estava completa estava com o braço preso à máquina. Eu lhe disse que, se quisesse, não precisava assinar, apenas colocar o dedo, como formalidade. Ele me respondeu: ‘Não. Eu não aceito isso. Posso estar sem perna, braço, mão, mas estudei a minha vida toda, e quero assinar’.”

Um comentário:

  1. Guilherme, tenho entrado no seu blog quase todo dia. Parabéns por mostrar a realidade de quem está na hemodiálise, sem floreios. Tenho um grande amigo há 7 anos na hemodiálise e não posso doar para ele pq tenho tipo de sangue diferente infelizmente.
    abraço, amigo!

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