Lembro-me do dia em que despertei para o real significado da minha doença. Era bem pequeno, devia ter 5 ou 6 anos, e minha avó tinha ido me levar para fazer exame de sangue no Hospital das Clínicas. Até então, eu já havia passado muito tempo em hospitais, fazendo cirurgias, exames, procedimentos etc., mas eu mesmo não tinha a menor noção de que aquilo era intrinsecamente relacionado a mim e para sempre. Antes daquele dia, uma ida ao hospital parecia ser um incidente fortuito e, apesar de ruim, esquecível. Dessa vez, entretanto, enquanto aguardava sentado no corredor, ocorreu-me que aquele tipo de espera não era novidade, havia acontecido outras vezes. Chamaram pelo meu nome – não o da minha avó ou o de outra pessoa –, levantei-me e fui encaminhado a um cubículo com uma cadeira e um suporte para apoiar o braço, de modo que ficasse estendido: “De novo?”, pensei. Então, caiu a ficha: aquilo era mais um dia de hospital.
Quando voltei pra casa, aquela consciência recém-adquirida ainda estava comigo. Olhei para a minha barriguinha de 6 anos e reparei que havia uma enorme cicatriz, e outra, e mais outra... Aquela consciência era definitiva, tinha vindo para ficar, tão para sempre como a minha doença.
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cara, impressionante. vc ja pensou em contar isso na tv?
ResponderExcluirAcho seu Blog drámatico, mas é impossivel ñ passar por aqui. A realidade com que nós renais crônicos convivemos é realmente chocante, não é fácil fingir que vai ficar tudo bem.
ResponderExcluirÉ cara, eu tive um pouco mais de sorte, quando a minha ficha caiu eu já estava mais crescido...
ResponderExcluirTeus textos estão ficando muito bons, talvez fosse o caso de juntar tudo em um livro.